domingo, 28 de outubro de 2007

De olhos vendados (III)



Hugo estacionou e ficou dentro do carro, em frente à casa de Marta, olhando para a porta… Sentia uma ansiedade que lhe apertava o peito! Ao mesmo tempo pensava porque Marta queria encontrar-se com ele na própria casa… a proposta que lhe pedira para trazer para analisarem juntos não era urgente… e, porque queria trabalhar se não se sentia bem? Ficara apreensivo… no escritório era fácil manter-se discreto e distante, mas ali, em casa dela e estando ela vulnerável…não sabia se aguentaria sem lhe dirigir palavras de carinho… até talvez um gesto mais íntimo… teria que se controlar!

Suspirando saiu do carro e dirigiu-se à porta. Ao aproximar-se reparou num envelope com o seu nome inscrito,,, retirou o bilhete e a chave caiu aos seus pés… “ Entra e segue o caminho de luz… Vai conduzir-te a algo inesquecível!” O coração de Hugo parecia querer saltar do seu peito… que quereria ela dizer com aquelas palavras? Deixara-o perturbado! Apanhou a chave e timidamente a colocou na fechadura…

Marta ouviu a chave a rodar na fechadura e ficou à espera…

Hugo entrou silenciosamente… viu as velas e engoliu em seco… que significaria tudo aquilo? Sentiu o cheiro das velas… agradável, convidativo… Pousou a mala, onde trazia os documentos, no hall e seguiu o caminho das velas… Conseguia ouvir uma música de fundo muito sensual, melódica, apenas instrumental e reconheceu… Kenny G… Espreitou timidamente o corredor… Vazio… mais velas… No espelho da consola, escritas a batom vermelho, algumas palavras: “Despe o casaco e descalça-te… fica confortável…” Hugo ficou estacado em frente ao espelho. Nem queria acreditar no que lhe estava a acontecer… Tinha 28 anos, estava sozinho desde que terminara a faculdade, quando a sua namorada desde a adolescência, lhe comunicara que nada do que ele sonhara para ambos se concretizaria. Ela decidira que aquele namoro já não tinha razão de ser… fora bom ter um namorado durante os tempos da faculdade mas agora dedicar-se-ia apenas à carreira profissional e não tinha qualquer intenção, quer de formalizar a união que mantinham, quer de construir uma família. Desalentado, Hugo decidira fazer o mesmo. Dedicou-se ao trabalho… em pouco tempo, atingiu o estatuto que nem sequer sonhara quando escolhera o curso de economia para ingressar na faculdade. Não mais namorara, apenas se relacionava com mulheres para satisfação de impulsos sexuais de momento e seguia a sua vida sem manter qualquer contacto.

Há já algum tempo que Hugo apenas alimentava a sua mente com fantasias com a sua chefe… E, agora acontecia isto… Tudo o que sonhara… ou mais ainda do que sonhara!

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