domingo, 23 de outubro de 2011

Luxúria


A casa de banho era quase tão grande como a suite do hotel… No meio, destacava-se a banheira,  redonda com os pés trabalhados… Torneiras clássicas, ornamentadas com madrepérola, saiam de uma coluna de mármore desde o chão… Um chuveiro dourado repousava num gancho  atrás das torneiras… A banheira cheia com água na temperatura ideal, espuma e pétalas de rosa sobre a mesma… o ar impregnado de uma fragrância adocicada, frutada… Um convite ao qual não me fiz rogada! Entrei de imediato e deixei-me ficar deitada na banheira, sentindo o calor da água, as carícias da espuma e das pétalas na pele, exalando o perfume…

Recostei-me na banheira e reparei que à minha frente se encontrava um enorme espelho emoldurado a dourado, que cobria quase toda a parede, ao lado da porta. Tudo nesta casa era luxuoso! Ou seria luxurioso? Quantas cenas de luxúria não teria presenciado este espelho? Quantas vezes não teria servido esta banheira de leito erótico? Recostei-me um pouco mais, deixando apenas a cabeça de fora da água e fechei os olhos… Com a cabeça apoiada na beira da banheira, deixei-me ficar, a relaxar… 

Em menos de nada,  senti algo a deslizar pelo meu braço… Inclinei a cabeça e abri os olhos esperando encontrar Juan… Sentada na beira da banheira, acariciando o meu braço com uma pena, estava uma mulher… Nua… No rosto uma máscara veneziana que lhe cobria apenas os olhos e nariz, em tons de dourado e penas vermelhas … Os lábios rosados entreabertos deixavam perceber a língua húmida, carnuda que neles se passeava… Sorriu quando me encontrou os olhos… Reconheceria aquele sorriso em qualquer lado… Sorri de volta e tentei levantar-me… Ela pousou uma mão no meu braço e não me deixou sair… Levantou as pernas do chão e rodando o corpo passou-as para o interior… Manteve-se sentada na beira da banheira… as pernas abertas, uma de cada lado das minhas, ligeiramente flectidas… Sorrindo… Olhei-a nos olhos e fui descendo… O pescoço longo e esguio, onde mãos sedosas deslizariam em deleite pela pele morena… Cabelos pretos compridos, ligeiramente quebrados em ondas que caiam sobre os ombros… Os seios redondos com mamilos suavemente acastanhados, pequenos e sempre arrebitados que convidavam uma língua quente e macia a saboreá-los… No ventre, de aspecto sedoso, um umbigo bem fechado, apetecendo explorar… Mais abaixo uma mancha discreta de pêlos escuros bem aparados… os lábios ligeiramente abertos, deixando aparecer um botão entumescido rosado e luzidio… As pernas longas e torneadas… Os braços estavam apoiados na beira da banheira, um de cada lado, fazendo com que o corpo estivesse ligeiramente inclinado para trás… Um claro convite…

Desencostei o corpo da banheira, inclinando-me para a frente… Ajoelhei-me à frente dela e passei as mãos suavemente ao longo das suas pernas… Apenas a espuma que tinha agarrada aos dedos lhe tocava… Apanhei uma pétala que ficara agarrada na sua perna e passei-a nos seus lábios, descendo pelo queixo, pescoço… deslizei pelo peito… percorri o mamilo que pareceu erguer-se um pouco mais a este toque… Ela respirava fundo… e os olhos fecharam-se… parecia saborear apenas o toque na pele que se arrepiava… Inclinei-me um pouco mais, ergui o corpo e toquei com os meus lábios nos dela… O sussurro de um gemido soltou-se dos seus lábios entreabertos… Passei a minha língua entre eles… Abrindo caminho ao calor convidativo da boca que já conhecia de outros tempos… Doce, quente e húmida… Senti a língua macia que se colou na minha… Dançaram juntas em movimentos delicados… empurrando-se sem machucar… juntando-se sem fundir… As minhas mãos subiram pelos seus braços… Agarrando-lhe os ombros, juntei o meu peito ao dela… os mamilos roçando na pele delicada… Senti um arrepio… como uma pequena descarga de energia… Há tanto tempo que não sentia uma pele tão macia junto à minha… Deixei-lhe os lábios devagar… Com a mão envolta nos cabelos, inclinei-lhe a cabeça ligeiramente para trás e passeei a minha língua pelo seu pescoço… deslizei suavemente até sentir a elevação do seio…  Lambi suave e languidamente o mamilo… Apertei-o nos lábios… Mordisquei-o delicadamente… Ela soltava gemidos discretos… sussurrados… guturais… Uma mão percorreu o meu pescoço segurando-me a nuca para não me afastar… Soltei o mamilo trocando-o pelo outro e de novo lambi, apertei e mordisquei, arrancando suspiros e gemidos de prazer… Sentindo o entumescimento do mamilo na minha língua, o arrepio da pele… As minhas mãos passeavam pelas suas ancas, percorri com os dedos, as nádegas bem proporcionadas, amassei-as ligeiramente, encostando o meu corpo ao dela… Afastei-me e olhei-a… Retirei a máscara e pousei-a no tapete ao lado da banheira… Olhei de novo o rosto delicado… deliciado… Os olhos azuis brilhantes de desejo… Os lábios entreabertos e a língua a passeá-los convidaram a novo beijo…






Cris abraçou e puxou o meu corpo colando-o ao seu… As suas mãos subiram pelas minhas costas e senti o toque suave a dirigir-se aos meus seios… Os seus dedos longos tactearam levemente o meu seio e depois agarraram-no na pressão exacta… a sua palma deslizou suavemente, em movimentos circulares, sobre o mamilo erecto… Gemi… e os meus gemidos foram abafados pelo beijo que trocavamos… As minhas mãos desceram de novo… pousei-as nas coxas ainda afastadas e seguindo pela virilha, procurei  sentir a penugem macia… Deixei deslizar um dedo pelos lábios de pele muito macia… Toquei suavemente no botão que espreitava… Segui e encontrei a humidade quente da vagina que parecia derreter ao meu toque… Deslizei um pouco mais e senti que Cris arqueava um pouco o corpo oferecendo-se, abrindo-se para mim… contornei suavemente a entrada da vagina em movimentos circulares, bem devagar… deixei que o dedo escorregasse ligeiramente para o interior e, retirando-o levei-o à boca dela… Passei-o devagar pelos lábios entreabertos… como um baton… de seguida passei a minha língua sobre esse contorno… devagar, provei o néctar doce… deixei que o seu cheiro impregnasse os meus sentidos e soltei um gemido ao sentir-me invadida pelas reacções que sentia no meu próprio corpo.

Cris levantou-se da banheira e saiu. Enrolou-se numa toalha e passou-me outra. Secamos o  corpo sorrindo uma para a outra… Deixamos cair as toalhas no tapete… Agarrou a minha mão e levou-me até à cama… Beijou-me os lábios com desejo incontido… As suas mãos passeavam o meu corpo desde as nádegas aos seios… deslizou as unhas pela minha pele causando-me um arrepio que me fez estremecer… Sentou-se na cama e fez-me sinal para me sentar também… Empurrou-me delicadamente para trás fazendo-me deitar… Baixou-se e beijou-me os seios…lambeu, mordiscou, voltou a lamber… Uma das suas mãos procurou o interior das minhas pernas… subiu por entre as coxas que eu  entreabri, flectindo uma perna… Os dedos passearam pelo lábios fazendo-me cócegas… estava molhada… senti um dos dedos percorrer a entrada da vagina e abrindo os lábios, encontrando o clitóris já inchado… Arqueie-me ao sentir o toque… Aos poucos senti a língua de Cris a descer pelo meu ventre… deslizando entre beijos e mordiscadelas pela minha pele arrepiada… o seu dedo continuava a brincar entre os lábios… a massajar lentamente o clitóris em movimentos circulares… Eu encontrava-me bastante molhada… sentia o dedo deslizar, escorregar sem qualquer dificuldade… Cris continuava a beijar-me... Entretanto, senti-a levantar-se na cama... Olhei-a e vi o sorriso lânguido... Instalou-se entre as minhas pernas, de joelhos na carpete... Baixou-se e senti o hálito quente, soprando suavemente os escassos pêlos que circundavam os lábios inchados... A língua passou suavemente, afilada, pelos lábios, bem devagar, abrindo-os e dando acesso às pregas interiores... Bem devagar, Cris passava a língua uma e outra vez... Evitando o clitóris... De vez em quando sentia a língua penetrar um pouco na vagina... penetrava e saia devagar... sorvendo o mel... espalhando-o pelos lábios... Senti um formigueiro discreto... Crescente... Quando Cris chegou ao clitóris, passando primeiro a língua afilada, várias vezes em pequenas investidas, amassando com os lábios, sugando, os gemidos saíram descontrolados...


Quase sem dar conta tentei alcançar a cabeça dela mas senti os braços agarrados... Abri os olhos e Juan sentava-se por trás de mim, prendendo-me os braços mas sem magoar... Inclinou-se sobre mim e beijou-me os lábios... Um beijo suave... Os lábios macios apenas pressionando suavemente os meus... E levantando-se de novo sorriu-me... Olhei para Cris que apenas sorria... passava os dedos suavemente na entrada da vagina e quando lhe sorri de volta, senti que me penetrava com um dedo... suavemente... entrou e saiu devagar... Baixou-se de novo e senti que continuava a brincar com o meu clitóris... Sentia-me  quase a transbordar de prazer... o dedo entrava e saia cadencialmente e a língua e os lábios ora lambiam ora mordiscavam... ora pressionavam... Comecei a gemer de novo e senti que Juan me colocava as mãos sobre o pénis erecto, duro... Com as mão sobre as minhas, incitava-me a massajá-lo, a apertá-lo... Ao mesmo tempo inclinou-se sobre mim e beijou-me os lábios senti a língua quente... Um beijo cheio de desejo. ora exigente, ora suave... Seguiu pelo queixo, pescoço e senti-o nos seios... assim que me começou a lamber os mamilos senti um arrepio e voltei a gemer... Cris introduzira mais um dedo e acelerou um pouco os movimentos... a sua língua movia-se cada vez mais rápido e sugava-me mais intensamente, mais demoradamente... Rapidamente senti alguns espasmos a percorrer o corpo... a pele a eriçar-se... os mamilos mais duros e sensíveis... o calor intenso... O orgasmo surgiu no instante seguinte... Gritei e gemi descontrolada... As pernas contraíram e aprisionaram Cris entre elas... apenas os seus dedos continuavam a entrar e sair, cada vez mais apertados, contrariando as contracções e tremores do corpo... Juan beijou-me de novo os lábios... depositava pequenos beijos e sorria... Cris foi parando os movimentos... Eu apenas tentava respirar... recuperar o fôlego...

Assim que me viram sorrir, Cris e Juan sorriram também... Olhei para Cris e tentei alcançar o seu rosto com a mão... Ela deitou-se a meu lado e eu aconcheguei-me no ombro... Juntamos os rostos... Ela estava radiante, ligeiramente corada... Eu transpirada, corada e muito quente... Beijou-me na boca... um beijo tão erótico como só ela conseguia... Juan deslizou pela cama e deitou-se atrás de mim... Encostou as pernas nas minhas e senti o pénis duro no rabo... O tronco ligeiramente afastado e elevado...Olhei-o e ele inclinou-se beijando-me também... Cris baixou-se sobre os meus seios e voltou a beijá-los a acariciá-los com a ponta do nariz... a soprar devagar... Deixando-me os lábios, Juan começou a beijar-me as costas... Senti os dedos a percorrê-las... acima e abaixo, num toque muito macio e muito discreto... arrepiei-me e estremeci... Depois, senti a língua quente bem mais macia que o dedo a percorrer-me as costas de cima até ao fundo... As mãos sobre as ancas desenhando carícias que se alargavam pelo fundo da barriga, alcançando o contorno dos pêlos púbicos... Muito rapidamente senti a tortura do prazer eminente... o formigueiro, as cócegas... Juan continuava a beijar-me as costas, despertando sensações que nunca imaginara sentir por ali... Os dedos atreveram-se a percorrer os lábios muito molhados ainda... o clitóris entumescido e sensível... Afastei ligeiramente as pernas e deixei-o invadir-me... Cris pegou-lha na mão e gulosa chupou o dedo... De seguida beijou-me... Introduzindo a língua rapidamente entre os meus lábios... Juan levantou o corpo e usando as suas pernas afastou as minhas, posicionando uma perna entre as minhas e a outra ao lado... Fiquei quase deitada de barriga para baixo... Cris afastou-se ligeiramente mas continuou a beijar-me... Senti as ancas serem elevadas e quase de imediato, Juan me penetrou de uma só vez... Arquei o corpo ao sentir-me invadida... preenchida... Em movimentos rápidos alternados com outros cadenciados, Juan desferia investidas que me deixavam em êxtase... Gemi e gritei... Tentei alcançar a mão dele e puxei-a para a mama... Juan massajou-a e beliscou o mamilo levemente... Um novo orgasmo explodiu em mim... O corpo sacudido... o calor... os arrepios... Juan não parou de se movimentar... Refreou um pouco, mas rapidamente ouvi os seus gemidos e os movimentos aumentaram... E aumentaram até que também ele explodiu dentro de mim... As contracções do seu pénis misturadas com as da minha vagina... os líquidos escorriam pelas coxas... Juan deixou-se cair nas minhas costas, mantendo-se dentro de mim... Ainda ouvi Cris murmurar qualquer coisa junto ao meu ouvido mas já não a percebi... Estava deitada à minha frente a sorrir... Juan rodeou-me o corpo com os braços fortes e quentes e assim ficamos muito tempo, a serenar... a respirar em sintonia... a sentir as contracções a diminuírem... os batimentos cardíacos a normalizar...

...

- Bom dia! - Um sussurro quase inaudível ressuou pelos meus ouvidos... Parecia distante, muito distante.

Tentei abrir os olhos mas não consegui mais que algumas piscadelas... as imagens desfocadas... Uma mão passeava pelo meu ombro nu... e alguns beijos delicados junto à orelha... "Cris" pensei de imediato e, instintivamente sorri. Voltei o corpo, ficando de costas e tentei de novo...

- Bom dia! - voltou a murmurar. Reconheci a voz, mas continuava tão longe... Consegui abrir os olhos e encontrei o rosto sereno e sorridente de Juan junto do meu... Uma  ponta de decepção deve ter passado pelo meu rosto pois ele murmurou junto ao meu ouvido:

- Pareces surpresa! Esperavas outra pessoa para  te acordar? - Disse-me, mantendo o sorriso. Estava impecavelmente vestido e penteado.

Sorri tentando disfarçar e respondi-lhe também num sussurro:

- Bom dia! Acho que estive a sonhar... - respondi meio envergonhada.

- Deve ter sido um sonho muito bom... Ouvi-te gemer e parecias agitada quando vim acordar-te. Respondeu Juam com um sorriso sedutor.

Afinal, tudo não passara de um sonho... Mas fora um sonho maravilhoso. Ainda sentia um aperto no peito e o corpo agitado pelas emoções "vividas".

- Que horas são? - perguntei olhando-o nos olhos.

- São sete e meia. Não disseste a que horas era o teu compromisso, mas como vou ter de sair, achei melhor acordar-te. Se preferires, podes continuar a dormir. - Sugeriu Juan.

Com alguma dificuldade tentei  lembrar-me de qual seria o compromisso.

- A Cimeira!!! - gritei, ao mesmo tempo que me levantei de um salto. Tinha uma camisa de dormir de seda vestida e apercebi-me da dor incómoda, embora ligeira, no fundo da barriga. Olhei para a cama e de seguida por mim abaixo... Senti o tampão e olhei confusa para Juan que sorria divertido sentado na cama. Levantou-se, dirigiu-se a mim e envolveu-me num abraço.

- Vou deixar instruções para te servirem um café e a limusina fica à porta para te levarem onde quiseres. Eu tenho de ir trabalhar e não posso levar-te pessoalmente. Dizendo isto, deu-me um beijo morno mas ao mesmo tempo estimulante.

- Não dormiste aqui? - perguntei-lhe a medo quando se afastava.

Juan voltu-se e parou a meio caminho da porta.

- Estavas maravilhosamente serena, atravessada na cama, quando cá vim ver se estavas bem... Ainda estive aqui algum tempo a ver-te dormir, mas depois achei melhor sair e deixar-te descansar. - Respondeu calmamente, deixando-me confusa...

De seguida saiu pela porta... antes de a fechar , voltou-se e piscou-me o olho...O sorriso maroto dançando nos lábios.

Fui à casa de banho para me refrescar e deparei-me com a banheira ainda com a água e as pétalas... duas toalhas no chão... Regressei ao quarto, com o coração acelerado e, olhando para o outro lado da cama, vi o vestido pendurado num cabide… as jóias no toucador ao lado da cama… Dei a volta e deparei-me com os sapatos ao lado um do outro, sob o vestido...
 
 E, então, vi algo que me deixou confusa e incrédula... No tapete felpudo repousava uma máscara em tons de dourado e vermelho...


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Entre Lençóis

Entre Lençóis de Cândido Figueiredo (livro)



 
Excerto
 
I
 
Como se dão clisteres

«Os dois corpos roçaram­se suavemente, e a seringa, resvalando febrilmente por todas as curvas que se lhe deparavam, ameaçava rasgar todos os obstáculos.
— Já a sinto — dizia Ricardina; — cuidado, não a despejes antes de servir.
— Então, volta-te para mim.
— Como? Não é de costas que se recebem clisteres?
— Também pode ser, mas a titi descobriu que os melhores são por diante.
— Não percebo como possa ser.
— Volta-te e vais perceber... Assim…Abraça-me e aperta-me, para que a seringa se despeje bem.
A seringa ia resvalando entre as coxas de Ricardina; e Ricardo afastava com uma das mãos a penugem doirada que bordava o orifício mais próximo do umbigo.
— Não é aí, Licá; não me faças cócegas.
— Agora não sou eu. É já a seringa… Custam­te muito as cócegas?
— Pelo contrário… Não a tires daí… Ai, Licá! Que coisas que ela faz… E se ela entrasse?
— Isso irá devagar; por ora… não me digas nada, que eu já não oiço… aperta-me… beija-me, morde-me a língua… ai, rica filha!...
E Ricardo fechou os olhos, na suprema das volúpias.
— Já acabou? Que pena!
— Não acabou, descansemos um pouco, enquanto se enche de novo a seringa. Vê como está vazia e branda; apalpa.
— É verdade! Mas… espera — disse ela, apalpando em todas as direcções; — isto não é seringa! Mauzão! Isto é uma coisa que eu já te tinha visto e que se não costuma mostrar.»