terça-feira, 26 de abril de 2011

Desafio...

Em resposta a um desafio de um blog...


 



Ela sentou-se virada para a janela… as lágrimas dançavam nos olhos azuis. “Não vou chorar… Não vai ver-me assim! Mas… também não interessa se vir… Como pode ser tão insensível? Digo-lhe que acabou tudo e não é capaz de tentar perceber ou dizer algo…”
Ele olhou-a pelo canto do olho… Os olhos dela brilhavam marejados… Mas sabe perfeitamente que ela não vai deixar rolar as lágrimas pelas faces coradas… “Como pode um fim-de-semana planeado para a pedir em casamento terminar assim?”
Ao fim de 30 minutos de silêncio, a chegar a Aveiro, ele pede para entrarem na cidade. “ A ver se fica mais calma com uns ovos moles… Não há-de morrer ninguém por mais 2cm nas ancas”
- Onde vamos? - Pergunta ela contrariada.
- Pensei em comer ovos moles… queres? – Perguntou-lhe calmamente.
Ela apenas encolheu os ombros, voltando a concentrar-se nas imagens que corriam pela janela do carro.
Seguiram para a A25… Aveiro era uma cidade que ambos conheciam bem. Tinham amigos a viver lá e passavam alguns fins-de-semana por ano com eles. Na Barra, junto à praia, passeavam de mãos dadas…
Saíram do carro ao mesmo tempo. Ele colocou as mãos nos bolsos e novamente sentiu o anel de ouro. Quantas vezes imaginára a reacção dela ao recebê-lo… mas agora, já não sabia o que imaginar e, o seu rosto ficou triste. Olhou para ela e conseguiu perceber o quanto estava triste também… os olhos continuavam cheios de água e sabia o esforço que ela tinha de fazer para não chorar. E conseguia… era determinada… no entanto, nos últimos tempos, mostrava-se insegura… Apesar de admirar a sua determinação, esse contraste não lhe desagradava de todo…
Ela ficou junto ao carro parada. Olhou para o mar revoltado… era sempre assim naquela praia… Parecia zangado com a areia e com as rochas, e galgava desatinado tentando alcançar o farol e as gentes que por lá passavam… A cabeça latejava de dor… Só queria chegar a casa e deixar correr as lágrimas para ver se aliviava aquela sensação. Começou a caminhar em direcção ao farol… não queria ovos moles… queria que o amor da sua vida se decidisse de uma vez por todas a ser o seu marido… queria ser pedida em casamento… queria escolher o vestido de noiva com a mãe e planear a entrada na igreja com o pai… queria escolher as flores para o bouquet e para enfeitar a igreja… queria receber os abraços e sorrisos de felicitação das amigas quando lhes mostrasse o anel de noivado… Embora nada disto fosse tão importante quanto estarem juntos, queria muito que acontecesse…
Quase sem dar conta, as lágrimas rolaram pela cara rosada e quente…
Ele contornou o carro e seguiu-a pelo passeio até ao farol. Ela gostava de se sentar ali a ver o mar… Sempre que iam passar o fim-de-semana a Aveiro a última coisa que faziam antes do regresso era ficar a ver o mar, sentados junto ao farol, de mão dada a sentir o vento frio, de lábios quase sempre colados…
Ela sentou-se no mesmo sítio de sempre, olhando o mar e sentindo o vento frio. Não conseguia controlar as lágrimas… mas também não queria… não se importava com mais nada…
Ele chegou perto dela e o coração bateu mais forte quando percebeu que ela chorava. Tirou as mãos dos bolsos e, com elas, o anel que trazia apertado na mão direita… Abriu a mão e olhou aquele aro prateado… Ouro branco, como os anéis que ela tanto admirava junto das montras das ourivesarias… quatro diamantes… um maior e três mais pequenos… estes últimos simbolizavam cada um dos filhos que desejavam ter… Voltou a colocar o anel no bolso e ajoelhou-se junto a ela… passou-lhe os braços pelos ombros e puxou-a para si… Ela escondeu a cara no peito dele e começou a soluçar. Nunca a tinha visto assim, era sempre tão controlada.
- Eu amo-te - disse-lhe ele com a voz trémula - E quero casar contigo...
Ela tentou afastar-se mas ele impediu-a, mantendo-se abraçado.
- Quando falaste nesta viagem pensei logo que seria o ideal para te pedir em casamento... mas... ao longo da viagem não consegui planear nada de muito romântico... nada que fosse inesquecível... sabes que não sou romântico. - desabafou e afastando-a olhou-a nos olhos... O rosto dela não estava tão transtornado quanto antes... até parecia sorridente.
- Parvo! Achas que o cenário é a parte mais importante de um pedido de casamento?...
- Bem, o anel já tinha... - continuou ele mas foi logo interrompido...
- Assim que me apercebesse do que ias fazer ou dizer, o mundo deixaria de existir... os meus sentidos passariam a estar apenas concentrados em ti e nas tuas palavras... isso sim, seria inesquecível. Será... se ainda o quiseres fazer... - ela ficou cabisbaixa e a voz quase sumiu ao dizer isto.
- Tu é que disseste que estava tudo acabado...
- Eu sei e fui precipitada, como sou tantas vezes... Desculpa.
- Bem, - disse ele, - vamos lá fazer isto como deve ser...
Dizendo isto, ele afastou-se ligeiramente, tirou o anel do bolso e, voltando a ajoelhar-se, disse-lhe aquelas palavras inesquecíveis... aquelas que saem entrecortadas, meio balbuciadas... por vezes sem nexo e sem preocupações com as regras de gramática...


E hoje, sinto-me romântica... :)